Sucuris, onças e mais: os bichos são as estrelas desta fazenda de batatas
"Conservação e produtividade agrícola podem conviver em harmonia."
Foi com o intuito de difundir essa ideia que a Fazenda Água Santa, grande produtora
de batatas localizada em Perdizes (MG), abriu as portas para crianças e jovens da
região desvendarem a biodiversidade do cerrado presente na sua vasta área de reserva ambiental.
O projeto de educação ambiental Núcleo Ambiental Água Santa do Cerrado (Nasc) nasceu em março de 2022 — fruto de um longo processo de exploração e estudo do local. Em 2018, funcionários da fazenda de João Emílio Rocheto, junto com pesquisadores da Fundação Espaço ECO, começaram a implementar um sistema de imagem para mapear a fauna e flora existentes na propriedade.
Após quase dois anos de pesquisa, um número impressionante foi revelado: mais de 230 espécies de aves vivem por lá. Isso representa mais de 30% de todas as aves que existem neste bioma e cerca de 12% de todos os pássaros do Brasil.
As câmeras também registraram a presença de diversos predadores que estão no topo de cadeias alimentares, como o lobo-guará, onça parda, sucuri, jaguatirica e cachorro do mato. Isso foi um ótimo sinal para os biólogos, já que a existência de seres vivos de diferentes níveis garante o equilíbrio e funcionamento do ecossistema.
Depois de ter em números a imensidão do patrimônio ambiental que sua fazenda abriga, João Emílio não teve dúvidas: tudo aquilo era um tesouro que precisava ser compartilhado. E ainda seria a oportunidade de mostrar para as gerações futuras exemplos, na prática, de técnicas e manejos sustentáveis.
"Apresentar aos visitantes todo o processo produtivo também ensina a importância do trabalho de cada colaborador dentro da fazenda. E como o conjunto dessas atividades garante o sucesso no negócio e na preservação", diz Ana Carolina Viegas, engenheira ambiental da Água Santa e responsável pelo projeto.
É hora da aula
Um ônibus safari é o responsável por levar os jovens para a vasta fazenda adentro. A voz animada do monitor ecoa do aparelho de som ligado ao microfone para chamar a atenção dos visitantes para uma espécie de animal ou uma flor exótica que aparece no meio do caminho, elencando fatos e curiosidades sobre o bioma.
"Eu não sabia o tamanho do cerrado e não imaginava que a diversidade era tão grande. Foi uma experiência muito legal conhecer os animais na fazenda e também ver como eles fazem para plantar, utilizando o solo de maneira sustentável", diz Júlia Isabelly Prates dos Santos, 12 anos, aluna da Escola Estadual Padre João Balker, Perdizes (MG), que participou de um dia de visita na fazenda.
O destino final do ônibus safari é a sede do projeto. A estrutura, rodeada por um viveiro de mudas nativas plantadas por jovens que vão passando ali, abriga um espaço educativo. É de lá também que sai o caminho para os 1.500 metros de trilhas, embalados pela barulheira harmônica dos pássaros e macacos.
Tiago Egydio, consultor em Gestão para Sustentabilidade da Fundação Espaço ECO, que ficou à frente do projeto na Fazenda Água Santa, conta que foram aproveitados antigos caminhos e áreas abertas, para evitar a derrubada de árvores na hora de demarcar as trilhas. Além disso, um estudo estabeleceu a capacidade de visitantes.
Um outro cuidado da equipe era que o caminho fosse representativo para as diferentes cores, formas e texturas do cerrado. "Assim a visita se tornou um 'livro vivo' para conhecer um pouco do bioma - que é considerado a savana mais biodiversa do mundo, com muitas espécies exclusivas, além de ser o berço de importantíssimas bacias hidrográficas do Brasil", conta Egydio.
Como é característico do cerrado, as chuvas são bastantes concentradas. No verão é muita água. No inverno, seca. Para lidar melhor com isso, a fazenda construiu represas fora dos leitos dos rios, que armazenam excedentes de água que correriam rio abaixo nas épocas das cheias.
Assim garantiu uma irrigação complementar e com microaspiração, ou seja, só libera a água quando realmente precisa e em pequenas quantidades de modo a não danificar o solo nem as plantas.
Além do retorno produtivo e financeiro que o esquema gera, o pivô de irrigação ainda acabou virando poleiro para os pássaros, que vão se integrando com a paisagem e chamando atenção dos visitantes que passam por ali.
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