Porto seguro de uma tradição
Praça de Serviços deverá receber cerca de 15 mil pessoas em mais uma edição da feira de artesanato do Vale do Jequitinhonha
Zirlene Lemos*
Nesta semana, de 2 a 7 de maio, a Praça de Serviços do campus Pampulha vai acolher a 17ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha na UFMG, que abrigará expositores de 22 municípios e uma diversificada programação cultural. As atividades serão realizadas de segunda a sexta, das 9h às 18h, e no sábado, das 9h às 14 horas. A promoção é da Pró-reitoria de Extensão, das diretorias de Ação Cultural e de Governança Informacional e dos programas Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e Saberes Plurais. São esperadas mais de 15 mil pessoas nos seis dias de evento.
A exemplo de edições anteriores, a Feira homenageará duas mestras do artesanato do Vale do Jequitinhonha: Dona Vitalina Pereira Xavier, 106 anos, uma das pioneiras na produção de cerâmica na localidade de Campo Alegre, município de Turmalina, e Dona Lia (Maria Vieira de Araújo Borges), 86 anos, apanhadora de sempre-vivas, pequenas flores naturais do cerrado, residente no distrito de Galheiros, próximo a Diamantina.
De acordo com Terezinha Furiati, responsável pela organização, a Feira da UFMG, além de possibilitar que os artesãos divulguem e comercializem seus trabalhos, efetiva o diálogo da UFMG com os municípios e os próprios artesãos. "A Feira concentra os melhores, mais tradicionais e famosos artesãos do Vale e abre a eles espaço para apresentar as técnicas, materiais e fazeres tradicionais. Também atrai muitos lojistas e colecionadores, inclusive do eixo Rio-São Paulo, pois é mais vantajoso comprar aqui do que circular pelo Vale", argumenta.
A bordadeira de roupas com poemas Maguidá Freitas Souza Botelho, que participa da Feira desde 2001, informa que vai expor produtos que variam de R$15 a R$250. Presidente da Associação dos Artesãos de Palmópolis (AAPA-MG), cidade com pouco mais de sete mil habitantes, situada a quase 1 mil quilômetros de Belo Horizonte, ela representa uma entidade que, no ano passado, vendeu cerca de 300 itens. Os filiados à AAPA-MG desenvolvem artesanato, utilitários em fibras vegetais, cipó, cerâmica, cabaças, bonecas em biscuit e se dedicam a produtos da agricultura familiar 100% orgânicos, como geleias, licores, paçoca de carne de sol e rapadura.
O artesanato dos povos indígenas também será representado na Feira. Maria Luiza Moreira Santos Souza, de Araçuaí, da etnia Aranã, tem 43 anos e trabalha desde os 12 anos. Como manda a tradição, aprendeu o ofício com os mais velhos e o transmitiu às filhas de 18 e 23 anos. "Participamos da Feira há quatro anos; fazemos questão de nos caracterizar, com pinturas corporais, vestes e cocar. Expomos peças menores como brincos de pena e de cascas, colares de sementes e maracás de coco, chocalhos indígenas utilizados em festas e cerimônias religiosas e guerreiras", explica.
Impactos sociais
O evento reunirá artesãos de 40 associações sediadas em 22 municípios participantes do programa Polo Jequitinhonha. No ano passado, a receita com as vendas foi superior a R$ 220 mil. A Feira oferece ao artista condições de divulgar e vender seus trabalhos sem a necessidade de intermediários, e essa facilidade contribuiu para torná-la o melhor local de divulgação e venda do artesanato em Belo Horizonte, superando a Feira Nacional de Artesanato, realizada em novembro, no Expominas. "Participamos de outras feiras em BH, como a Agriminas e a feira do Expominas, mas a da UFMG é a mais rentável", atesta a bordadeira Maguidá Freitas.
Terezinha Furiati menciona os impactos sociais da relação entre Universidade e artesãos. "A Feira proporciona boas oportunidades de geração de renda, e normalmente esses recursos são utilizados na melhoria das moradias, em investimento na educação dos filhos. Além disso, favorece a autonomia e o empoderamento feminino. Muitas mulheres se deslocam até BH para comercializar seus produtos e aqui permanecem durante uma semana, deixando suas casas, filhos e maridos para trabalhar em seu próprio negócio", explica. A Universidade também se beneficia da parceria. "A Feira trouxe para cá o saber popular dos mestres e das mestras. Ela produz e compartilha conhecimentos", avalia.
*Jornalista da Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão
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